PSICANÁLISE PARA BEBÊS, É POSSIVEL?

Parece estranho ouvir falar em psicanálise para bebês, mas na verdade o que é possível ser analisado é a relação da díade mãe-bebê ou dos pais-bebê e intervir a partir daí.

Em geral, a ajuda de um psicanalista é solicitada quando não se encontra resposta para determinados tipos de problemas que estão acontecendo com o bebê (choro muito frequente, dificuldades na alimentação, sono, problemas gástricos, respiratórios, entre outros) ou quando os recursos da medicina se esgotaram.

Este tipo de intervenção é feito porque se entende que aspectos inconscientes dos pais (questões fantasmáticas) e questões relativas à dinâmica familiar atuam fortemente na estruturação psíquica do bebê, de modo muito precoce, a partir dos primeiros dias de vida. E o bebê produz sintomas para aquilo que não pode ser simbolizado por ele.

O modo como os pais se relacionam com o filho, aquilo que sentem, o modo de educar está impregnado das relações vividas por eles e até por outras gerações. Este recriar de experiências não necessariamente é problemático, mas passa a fazer parte do modo de interação atualizado nesta família.

Mais surpreendente ainda é a criança responder do lugar onde ela é colocada na fantasia dos pais, como se fosse um processo retroalimentado. Por exemplo, uma criança pode ser vista e tratada pelos pais como frágil. Esta pode passar a reagir como tal, aceitando ser nomeada desta forma e reforçando o modo de ser tratada.

Um atendimento com os pais e o bebê ou a mãe e o bebê possibilita analisar a relação entre eles através das verbalizações, da interação corporal e não-verbal, dos sentimentos que aparecem e de como interagem os pais entre si e com o filho. Até mais que isso, os avós também são trazidos, por meio da fala dos pais, para este momento. Em geral a família põe em cena aquilo que precisa ser dito para que o bebê deixe de ser o porta-voz com seu sintoma. Deste modo, o psicanalista ali presente pode sinalizar o que não foi possível ser revelado de outra forma.

Muitas vezes somente em abordar os pais sobre o cenário familiar ou dar um espaço para escutá-los, já promove algum efeito, algum deslocamento de posições. Os resultados são muito positivos.

Ocorre, porém que antes de chegar a um psicanalista, os pais procuram um médico, e não são muitos os médicos que tem uma visão que ultrapasse o sintoma.

Da mesma forma, as pessoas em geral não imaginam que um bebê tão pequeno possa sinalizar com seu sintoma que algo não esteja bem na família ou na relação com um de seus pais.   Talvez se deva ao fato de ser muito subjetivo esse modo de abordar o problema.

O ideal seria que os profissionais se valessem do conhecimento de diferentes campos do saber para uma abordagem mais ampla daquele que busca ajuda.

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