TODOS OS FILHOS PRECISAM SER ADOTADOS
É isso mesmo. Os pais, embora tenham gerado seus próprios bebês, também precisam adotá-los. E a razão disto é que o vínculo biológico não garante o “apego” * ao bebê. É preciso que seja feito um investimento emocional neste bebê. Isso também explica o fato de uma criança poder fazer vínculo com pais substitutos.
Em uma das definições do dicionário, adoção trata-se de ação ou efeito de aceitar alguém ou algo. Portanto, os pais precisam aceitar, reconhecer, achar um ponto de identificação com seus filhos, vendo alguma parte “sua” naquele bebê.
Esse investimento no bebê começa muito antes da mãe engravidar ou durante a gestação, quando o bebê já faz parte dos planos e das fantasias dos pais e ocupa um lugar no desejo parental, na vida do casal. Mesmo assim este investimento deve continuar após o nascimento, quando o bebê imaginado dará lugar ao bebê real.
O bebê, desde muito cedo, é capaz de estabelecer relações com seus pais. E é fundamental que se acredite que a constituição subjetiva deste bebê se dá tão precocemente para que sejam endereçados a ele, desde o início de sua vida, as palavras, o olhar e o toque que serão fundamentais para a estruturação do seu aparelho psíquico.
É desta forma que ele vai saber o significado de sua existência e o lugar dele no desejo parental. É através do olhar do outro que ele vai se reconhecer e receber as mensagens que lhe dirão quem ele é. O bebê que não é tocado devidamente, a quem não se dirige a palavra e o olhar, ou que é privado de afeto, pode apresentar falhas no desenvolvimento físico e psíquico.
Descobertas como estas, feitas por pesquisadores, influenciaram fortemente decisões na área da saúde. Uma das ações foi permitir a entrada dos pais na UTI Neonatal para acompanhar e se aproximar de seus filhos, favorecendo a formação do vínculo e a recuperação mais rápida do bebê. Seguindo este mesmo pensamento, o método mãe-canguru, que visa acelerar o desenvolvimento de bebês prematuros através do contato físico entre os pais e o bebê, também trouxe grande benefício.
Enfim, acreditar que desde os primeiros dias de vida do bebê está se construindo uma relação é fundamental para que os pais dirijam-lhe a palavra, o olhar e o toque de modo muito mais especial.
* Teoria do apego: expressão para denominar o vínculo formado entre o bebê e a mãe ou a pessoa substituta, ao longo do seu primeiro ano de vida. Expressão criada por Bowlby, psiquiatra que se dedicou ao estudo do desenvolvimento infantil.
