AS HISTÓRIAS FAMILIARES E A TRANSMISSÃO ENTRE GERAÇÕES

Nós, seres humanos, diferentemente dos outros animais, não temos um dispositivo no nosso código genético que nos permita sobreviver e nos constituir sem o cuidado de outro ser humano durante um longo período. Por esta imaturidade física e psíquica, nascemos numa condição de total dependência.

Como resultado desta dependência,  o bebê humano será forçosamente marcado, desde o início, pelo relacionamento primordial com seus pais ou substitutos destes. Deste modo, a subjetividade do novo bebê em vias de constituição será entrelaçada, atravessada pela subjetividade de seus pais. É uma questão de sobrevivência.

Entendamos subjetividade como o mundo interno, constituído pelos desejos, emoções, idéias, pensamentos, valores, significados… É tudo isto presente nos pais que deixará alguma marca em seus filhos. É nesta relação de dependência que será feito o investimento emocional necessário para estruturação psíquica do bebê; é quando dar-se-á o nascimento psicológico,  o surgimento de um sujeito, desde os primeiros dias de sua existência e mesmo antes de nascer, quando ele já faz parte do mundo de fantasias dos pais.

Neste processo de constituição, serão os pais ou seus substitutos que transmitirão os primeiros significados e que falarão pelo bebê. Eles serão os mediadores da linguagem, do mundo simbólico que já existe previamente ao nascimento dele. Serão os pais que vão interpretar e atender as necessidades dos filhos. E não há como fazer isso a não ser a partir dos próprios desejos, de suas histórias familiares, dos relacionamentos com seus próprios pais.

Esta pré-história familiar, que começou muito antes do bebê nascer e na qual ele será incluído, será transmitida através da linguagem e servirá de referência na construção da identidade dele. Essa transmissão se dará através das gerações e são histórias com as quais ele irá se identificar ou se diferenciar. Repetir ou fazer diferente. Essas escolhas se darão em função das redes de identificações produzidas pelos laços familiares.

Enfim, para que este bebê deixe de ser um organismo vivo e passe a condição de sujeito ele terá que ser marcado pela história de um outro ser humano, mesmo que futuramente faça uma releitura desta história e possa se vincular a ela de maneira diferente. Essas histórias serão a herança familiar e a transmissão é psíquica.

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